



João Paulo Lorenzon
Ator


Memória Do Mundo 2008

Aos 15 anos, li pela primeira vez um conto de Jorge Luis Borges:
As Ruínas Circulares. Foi a primeira vez que senti o impacto de uma obra de arte. Até então, nenhuma música, nenhuma pintura, nenhum filme,
nenhum verso, tinha me comovido daquela maneira.
Quando terminei de ler o conto de 8 páginas, os meus limites de sonho e realidade tinham se confundido.
Minhas crenças de que a vida é cheia de sonhos e
os sonhos são bem verdadeiros se confirmavam.
Eu havia encontrado alguém com quem conversar.
Na última página do conto, logo em baixo do último ponto final, minha avó que já não era mais viva, mas que sempre foi muito viva em mim, havia escrito
em caneta azul: “Lindíssimo!”
Essa palavra fortalecia meu impacto com a arte daquele escritor e fortalecia minha admiração por minha avó.
Com os anos fui lendo a obra de Borges, lendo e me transformando, lendo e me decifrando, lendo e me desconhecendo.
Chegou um momento em que eu mesmo precisei passear em seus universos.
Mundos habitados por tigres, espelhos, ampulhetas, escadas inversas, sonhos e memórias.
Memórias.
Mémoria do Mundo começou como uma seleção dos meus trechos favoritos de Borges, passou por muitos olhos, olhos que não me canso de agradecer, até
se transformar em um texto que tenta, timidamente, explorar as atmosferas do escritor, tocar em algumas de suas questões, mas é, no fundo, um elogio à memória.
Foi então que encontrei Élcio Nogueira, diretor da peça, como companheiro incansável, lúcido e delirante e partimos atravessando os desertos e os
labirintos.
Obrigado Élcio, pela parceria e por nunca cortar a corda.
Sobre Borges, recordo as palavras de um outro poeta: o teu dever é não se
deixar levar pelo sacrifício. O teu dever real é salvar o teu sonho.

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